o enfrentamento do corpo



Não era a vaidade que a atraia para o espelho, mas o espanto de descobrir-se. Esquecia-se que tinha diante de si um painel de mecanismos psíquicos. Acreditava ver sua alma se revelando sobre os traços do seu rosto. Esquecia-se que o nariz é a extremidade por onde o ar entra para os pulmões. Via nele a expressão fiel de seu temperamento.

[...]

Agora podemos compreender melhor o sentido do vício secreto de Tereza e de suas longas permanências diante do espelho. Era um combate com sua mãe. Era o desejo de não ser um corpo como os outros, mas de ver sobre a superfície de seu rosto a tripulação da alma surgir do ventre do navio. Não era fácil porque sua alma triste, medrosa, perturbada, escondia-se no fundo de suas entranhas, com vergonha de aparecer.



Milan Kundera

A insustentável leveza do ser