nuances da Maga



Todo mundo aceitava a Maga, imediatamente, como uma presença inevitável e natural, embora todos se irritassem por serem obrigados a explicar-lhe quase tudo o que estava sendo dito, ou ainda, por ela fazer voar um quarto de quilo de batatas fritas pelo ar, simplesmente por se incapaz de manejar decentemente um garfo, e assim, as batatas fritas iam sempre cair sobre a cabeça dos caras que se encontravam na mesa ao lado. Ainda por cima era preciso pedir desculpas a esses caras ou, então, dizer a Maga que ela era uma leviana.

[...]

Era insensato querer explicar alguma coisa à Maga. Fauconnier tinha razão: para pessoas como ela, o mistério começava exatamente com a explicação. A Maga ouvia falar de imanência e transcendência, abrindo uns olhos preciosos que interrompiam a metafísica de Gregorovius. No final, chegava sempre a convencer-se de que havia compreendido o Zen e suspirava cansada. Só Oliveira é que se dava conta de que ela estava constantemente se aproximando destes grandes terraços fora do tempo, que todos eles procuravam dialeticamente.




Julio Cortázar

O jogo da amarelinha
capítulo 4