o inexplicável



O mistério intimo das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.



Fernando Pessoa - Alberto Caeiro

O guardador de rebanhos V


das fúrias



Que era: que a gente carece de fingir que às vezes raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando o pensar e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é.



João Guimarães Rosa

Grande Sertão: Veredas


Flor y cronopio



Un cronopio encuentra una flor solitaria en medio de los campos. Primero la va a arrancar, pero piensa que es una crueldad inútil y se pone de rodillas a su lado y juega alegremente con la flor, a saber: le acaricia los pétalos, la sopla para que baile, zumba como una abeja, huele su perfume, y finalmente se acuesta debajo de la flor y se duerme envuelto en una gran paz. La flor piensa: «Es como una flor».



Julio Cortázar

Historias de Cronópios y de Famas

Sus historias naturales


invasão



escuta, eu carrego esses pecados capitais, todos
sou gulosa, passional e nem sempre é santa a minha ira
mas das palavras não sou eu que faço uso
são elas, as geniosas, as venais
que se utilizam de mim e se divertem
com meu desespero de caçá-las
na minha insônia.
São elas, se mascaram, se camuflam
indisiosas
se insinuam, me enlouquecem
sem nunca ceder.

Peço uma trégua, não agüento mais
e Deus me pede uma paciência sem limite
Deus me pede que eu me sacrifique
para poder servi-las.

Acabo me entregando, cansada, extenuada, exaurida
veículo de sua vontade
eu deixo então de lado a minha vida
e a própria vida não tem mais importância
Através de mim elas se manifestam, as palavras
na plenitude de sua arrogância.


Bruna Lombardi

O perigo do dragão


na vida



Queremos livros que nos afetem como um desastre.

Um livro deve ser como uma picareta diante de um mar congelado dentro de nós.



Franz Kafka


canção de amor da jovem louca



Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para
a insanidade.

(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo
do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com
estrondo

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente)


Sylvia Plath


a dinâmica íntima dos começos



O que é isso de diário e correspondência? Acho que na vivência de todo mundo, diário e correspondência, diário e carta, é o tipo de escrita mais imediata que a gente tem. Quase todo mundo aqui, tenho certeza absoluta, que a maioria das pessoas já fez um diário íntimo ou faz um diariozinho, em adolescência ou até agora. E que a maioria absoluta das pessoas aqui também já escreveu alguma vez cartas, teve até uma correspondência meio intensa com algumas expectativas. Então, o primeiro tipo de produção de escrita que a gente tem – e isso quando a gente pensa um pouco em escrita de mulher... Mulher, na história, começa a escrever por aí, dentro do âmbito particular, do familiar, do estritamente íntimo. Mulher não vai logo escrever para o jornal. Historicamente, séculos passados, a mulher começa a escrever numa esfera muito familiar. E a gente começa a escrever também numa esfera muito familiar. Todo mundo terá essa experiência.



Ana Cristina Cesar

Crítica e Tradução
Escritos no Rio
depoimento no curso 'literatura de mulheres no brasil' em 1983


o enfrentamento do corpo



Não era a vaidade que a atraia para o espelho, mas o espanto de descobrir-se. Esquecia-se que tinha diante de si um painel de mecanismos psíquicos. Acreditava ver sua alma se revelando sobre os traços do seu rosto. Esquecia-se que o nariz é a extremidade por onde o ar entra para os pulmões. Via nele a expressão fiel de seu temperamento.

[...]

Agora podemos compreender melhor o sentido do vício secreto de Tereza e de suas longas permanências diante do espelho. Era um combate com sua mãe. Era o desejo de não ser um corpo como os outros, mas de ver sobre a superfície de seu rosto a tripulação da alma surgir do ventre do navio. Não era fácil porque sua alma triste, medrosa, perturbada, escondia-se no fundo de suas entranhas, com vergonha de aparecer.



Milan Kundera

A insustentável leveza do ser


das facilidades enganadoras



É mais fácil vender a própria liberdade com vistas à segurança material, do que levar uma existência responsável e livre e ser senhor de si mesmo.



Wilhelm Reich

A função do orgasmo


canção da estrada aberta



I



A pé e com o coração iluminado, adentro a estrada aberta
Saudável, livre, o mundo diante de mim
A longa senda marrom em minha frente, conduzindo me para onde quer que
[eu escolha.

A partir de agora não peço mais pela boa sorte, pois eu mesmo sou a boa sorte
A partir de agora abandono as lamúrias, não mais procrastino, de nada mais
[necessito
Estou farto de reclamações entre quatro paredes, bibliotecas,
[críticas conflituosas,
Forte e satisfeito eu viajo pela estrada aberta

A Terra, ela é suficiente para mim
Não desejo as constelações mais próximas
Sei que estão muito bem no lugar em que estão
Sei que são suficientes para os que vivem por lá

(Ainda assim, por aqui carrego meus fardos deliciosos,
Carrego-os, homens e mulheres, carrego-os comigo onde quer que eu vá,
Juro que é impossível deles me livrar,
Estou realizado por eles, e hei de realizá-los em troca.)


Walt Whitman

Folhas de Relva


a volúpia criativa



Não: a arte não é um sofrimento, exatamente, nem é só o sofrimento que a pode legitimidade proporcionar. O momento da criação é um prazer sublime, e estou completamente em desacordo com o que o consideram um parto. Nem posso compreender mesmo, essa assimilação da criação artística com o parto. Deriva certamente da semalhança entre o filho e a obra-de-arte. O momento da criação é gostosíssimo, verdadeiramente aquela sublimidade de integração e dadivosidade do ser, em que a gente fica na ejaculação sexual. É tão sublime mesmo, é tamanha a integração, que a gente não pode se ilhar num estado de consciência e se analisar. O ser mais frágil do mundo, mais escravo, mais indefeso é o homem no momento da ejaculação: ele fica por completo inerme. Esse o momento da criação artística. O que sucede, é que esse momento é rapidíssimo (como a ejaculação), dura alguns segundos. E logo principia o trabalho mais penoso e principalmente muito mais inquieto de artefazer, corrigir, criticar, julgar, intencionalizar, dirigir a obra de arte, polir, etc., etc., sacrificar coisas que gosta em proveito de uma significação funcional da obra-de-arte, que é mais importante que a gente, o diabo. Nisso é que vem muito sofrimento, muita fadiga, muita indecisão. Mas é estranho como nesse trabalho longo, você constantemente se vê atirado na volúpia da criação, é incrível como você inventa.



Mário de Andrade

Cartas a um jovem escritor e suas respostas
carta a Fernando Sabino em 16.02.1942


das parecências



assim sempre corre o jovem em direção à mulher: mas será mesmo o amor que o conduz? ou não será sobretudo o amor por si mesmo, busca de uma certeza de estar ali que somente a mulher pode lhe dar? Corre e se apaixona o jovem, inseguro de si, feliz e desesperado, e para ele a mulher é certamente aquela que está ali, e só ela pode lhe oferecer aquela prova. Mas também a mulher está e não está: ei-la que se defronta com ele, igualmente trepidante, insegura, como é que ele não percebe? Quem importa entre os dois quem é o forte e quem o fraco? São semelhantes.



Italo Calvino

O Cavaleiro Inexistente


é fato



Um sentir é do sentente, mas o outro é o do sentidor.



João Guimarães Rosa

Grande Sertão: Veredas


para trás, mas perto ainda



Alegre-se com seu crescimento, para o qual não pode levar ninguém junto, e seja bondoso com aqueles que ficam para trás, seja seguro e tranqüilo diante deles, sem perturbá-los com suas dúvidas nem assustá-los com uma confiança ou alegria que eles não poderiam compreender. Procure construir com eles algum tipo de comunhão simples e fiel, que não precise ser alterada à medida em que você se modifica cada vez mais. Ame neles a vida em uma outra forma


Rainer Maria Rilke

Cartas a um Jovem Poeta


fora de hora



Entrega fora de hora
e posse fora de hora.
Quem mandou
você atrasar a hora,
você apressar a hora,
você aceitar a hora
não madurada
ou demasiado madura?
O tempo fora de hora
não é tempo nem nada.
O amor fora de hora
é como rolar da escada.


Carlos Drummond de Andrade

Farewell


brincadeira



faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta de que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus,

(...)

faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava com os braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que ela era sábia o bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os punhos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a luz da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e um luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes e de tranqüilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro



Clarice Lispector

Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres


das revoltas



Mas o que me assombra, o que me deixa por completo incompetente é ver como tem pessoas nesse mundo que acham que estão indo direitinho e se satisfazem com pouca coisa de si. Querem tudo pra si, honra, dignidade, virtude, posição, glória, riqueza, felicidade no amor e no jogo, tudo, até saúde e amigos “do peito”, mas quando é pra ceder um milímetro de sacrifício, ainda querem querem querem! querem para si o título de mártires, e de heróis decerto sou eu que não me conformo com o ser humano.



Mário de Andrade


Cartas a um jovem escritor e suas respostas
carta a Fernando Sabino em 02.02.1944


epigrama nº 8



Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo que eras nuvem, depus a minha vida em ti.

Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar quando caí.


Cecília Meireles

Obras completas

da autofidelidade



Minha irmãzinha, ouça meu conselho, ouça meu pedido: respeite a você mesma mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver. Eu tenho tanto medo que aconteça com você o que aconteceu comigo, pois nós somos parecidas.

Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia - será punida e irá para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não será punida por essa mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma moral amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assitisse minha vida sem eu saber - pois somente saber de sua presença me transformaria e me daria vida e alegria.



Clarice Lispector

Correspondências
carta a Tânia Kaufman, em 1948


até que a morte os separe?



Eu amo meu marido. De manhã à noite. Mal acordo, ofereço-lhe café. Ele suspira exausto a noite sempre mal dormida e começa a barbear-se. Bato-lhe à porta três vezes, antes que o café esfrie. Ele grunhe com raiva e eu vocifero com aflição. Não quero meu esforço confundido com um líquido frio que ele tragará como me traga duas vezes por semana, especialmente no sábado.



Nélida Piñon

I love my Husband
em Os cem melhores contos brasileiros do século


essas pequenas traiçoeiras



As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando umas com as outras, parece que não sabem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjetivo, e aí temos a comoção irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos, às vezes são os nervos que não podem agüentar mais, suportam muito, suportaram tudo, era como se levassem uma armadura



José Saramago

Ensaio sobre a Cegueira


da amizade



Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual, o igual, desarmado. O que de um tira o prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê que é.



João Guimarães Rosa

Grande Sertão: Veredas


nuances da Maga



Todo mundo aceitava a Maga, imediatamente, como uma presença inevitável e natural, embora todos se irritassem por serem obrigados a explicar-lhe quase tudo o que estava sendo dito, ou ainda, por ela fazer voar um quarto de quilo de batatas fritas pelo ar, simplesmente por se incapaz de manejar decentemente um garfo, e assim, as batatas fritas iam sempre cair sobre a cabeça dos caras que se encontravam na mesa ao lado. Ainda por cima era preciso pedir desculpas a esses caras ou, então, dizer a Maga que ela era uma leviana.

[...]

Era insensato querer explicar alguma coisa à Maga. Fauconnier tinha razão: para pessoas como ela, o mistério começava exatamente com a explicação. A Maga ouvia falar de imanência e transcendência, abrindo uns olhos preciosos que interrompiam a metafísica de Gregorovius. No final, chegava sempre a convencer-se de que havia compreendido o Zen e suspirava cansada. Só Oliveira é que se dava conta de que ela estava constantemente se aproximando destes grandes terraços fora do tempo, que todos eles procuravam dialeticamente.




Julio Cortázar

O jogo da amarelinha
capítulo 4


casa comigo



casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo. a mais linda, a mais amada, respeitada, cuidada... a mais bem comida. e a pessoa mais namorada do mundo e a mais casada. e a mais festas, viagens, jantares... casa comigo que te faço pessoa mais realizada profissionalmente. e a mais grávida e a mais mãe. e a pessoa mais as primeiras discussões. a pessoa mais novas brigas e as discussões de sempre. casa comigo que te faço a pessoa mais separada do mundo. te faço a pessoa mais solitária com um filho pra criar do mundo. a pessoa mais foi ao fundo do poço e dá a volta por cima de todas. a mais reconstruiu sua vida. a mais conheceu uma nova pessoa, a mais se apaixonou novamente... casa comigo que te faço a pessoa mais “casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo”.



Michel Melamed

Regurgitofagia


entre as possibilidades e os atos



Sair, fazer, pôr em dia, não eram coisas que o ajudavam a adormecer. Pôr em dia. Que raio de expressão! Fazer. Fazer algo, fazer o bem, fazer xixi, fazer hora: a ação em todas as suas complicações. Contudo, por trás de toda e qualquer ação, havia sempre um protesto, pois todo fazer significava sair de para chegar a, ou mover algo para que ficasse aqui e não ali, ou entrar numa determinada casa em vez de entrar ou não entrar na casa ao lado, o que significava que em qualquer ato havia sempre a confissão de um falha, de algo ainda não feito e que era possível fazer, o protesto tácito diante da contínua evidência da falha, da mesmice, da imbecilidade do presente.

Julio Cortázar


O jogo da amarelinha
capítulo 3


a sagacidade de Sofía



Rímini pensou que ia chorar e desviou os olhos rapidamente. Foi um ato reflexo; sabia que não tinha a menor chance de disfarçar: para os signos do amor – e no amor ela incluía também tudo o que vem antes e depois do amor, tudo o que o escoltava, o que ficava em seu caminho, o que flutuava como um nuvem ao seu redor, o que o amor havia desalojado e o que havia desalojado o amor: tudo –, os olhos de Sofía eram tão rápidos e certeiros quanto são os dos crupiês para aquele alfabeto de mãos, números e cores com que se escreve todas as noites os panos das mesas de roletas.


Alan Pauls

O passado


alma irmã da minha



Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão. No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós. Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto.



Caio Fernando Abreu

Meu nome é Caio F.
Moro no segundo andar, mas nunca encontrei você na escada