Sou filha da charneca erma e selvagem:
Os giestais, por entre os rosmaninhos,
Abrindo os olhos d' oiro, p'los caminhos,
Desta minh’alma ardente são a imagem.
E ansiosa desejo — ó vã miragem -
Que tu e eu, em beijos e carinhos,
Eu a Charneca, e tu o Sol, sozinhos,
Fôssemos um pedaço da paisagem!
E à noite, à hora doce da ansiedade,
Ouviria da boca do luar
O De Profundis triste da Saudade…
E, à tua espera, enquanto o mundo dorme,
Ficaria, olhos quietos, a cismar…
Esfinge olhando, na planície enorme…
Florbela Espanca
Livro de 'Sóror Saudade'
Livro de 'Sóror Saudade'