das dificuldades sublimes



Não se deixe enganar por sua solidão só porque há algo em você que deseja sair dela. Justamente este desejo o ajudará, caso o senhor o utilize com calma e ponderação, como um instrumento para estender sua solidão por um territóio mais vasto. As pessoas (com o auxílio das convenções) resolveram tudo da maneira mais fácil e pelo lado mais fácil da facilidade; contudo é evidente que precisamos nos aferrar ao que é difícil, tudo na natureza cresce e se defende a seu modo e se constitui em algo próprio a partir de si, procurando existir a qualquer preço e contra toda a resistência. Sabemos muito pouco, mas que temos que nos aferrar ao difícil é uma certeza que não nos abandonará. É bom ser solitário, pois a solidão é difícil; o fato de uma coisa ser difícil tem de ser mais um motivo para fazê-la.

Amar também é bom: pois o amor é difícil. Ter amor de uma pessoa por outra, talvez seja a coisa mais difícil que nos foi dada, a mais extrema, a derradeira prova e provação, o trabalho para o qual qualquer outro trabalho é apenas uma preparação. Por isso as pessoas jovens, iniciantes em tudo, não podem amar: precisam aprender o amor. Mas otempo do aprendizado é um longo perído de exclusão, de modo que o amor é por muito tempo, ao longo da vida, solidão, isolamento intenso e profundo para quem ama. A princípio amor nada é do que se chama ser absorvido, entregar-se e se unir com uma outra pessoa. (Pois o que seria a união do que não é esclarecido, do inacabado, do desordenado?) O amor constitui uma opotunidade sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo, tornar-se um mundo, tornar-se um mundo para si mesmo por causa de outra pessoa; é uma grande exigência para o indivíduo, uma exigência irrestrita, algo que o destaca e o convoca para longe [...] a comunhão é o passo final, talvez uma meta para a qual a vida humana quase não seja o bastante.



Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta