da descontrução



Não posso esperar nunca que alguém me dê a liberdade. A liberdade tem que ser construída por nós mesmos. Como? Cada qual tem de descobrir por si só. Minha liberdade eu construo escrevendo, pintando, mantendo a minha visão simples do mundo, espreitando na selva como um animal, impedindo intromissões na minha vida privada. O essencial para o homem é a liberdade. Interior e exterior. Atrever-se a ser você mesmo em qualquer circunstância e lugar. A liberdade é como a felicidade: não chega nunca. Nunca se tem completa. É só um caminho. A gente caminha atrás da liberdade e da felicidade. E assim se vive. É só a isso que se pode aspirar. Faz alguns anos, e durante muito tempo, minha vida andou presa a sistemas, a conceitos, a preconceitos, a idéias pré-concebidas, a decisões alheias. Aquilo era autoritário e vertical demais. Não conseguia amadurecer assim. Vivia numa jaula, como um bebê que protegem e isolam para que jamais amadureça seus músculos e desenvolva seu cérebro. Tudo desmoronou diante de mim. Dentro de mim. Com muito estrondo. E fiquei à beira do suicídio. Ou da loucura. Tinha de mudar alguma coisa no meu interior. Do contrário podia acabar louco ou cadáver. E eu queria viver. Simplesmente viver. Sem pressões. Talvez com algum dia feliz. E reduzir as angústias. Isso é imprescindível: reduzir as angústias. Quem sabe seja só uma questão de mudar de ponto de vista. É preciso estar plenamente presente onde a gente se encontra, e não escapar sempre.



Pedro Juan Gutiérrez

Animal Tropical