Esta educação artística errada distorceu todos os conceitos: espera-se que de repente o artista se torne uma espécie de tio que apresenta um divertimento dominical que apresenta aos seus sobrinhos e às suas sobrinhas (ao distinto público): sua obra. Ele pinta um quadro ou cria uma estátua com seu cinzel. Para quê? Meu Deus: para agradar a fulano e sicrano nos quais não está nem um pouco interessado, para estimular a sua digestão preguiçosa por meio desta boa idéia, e para decorar suas salas com a obra condescendente.
É assim que o público quer o artista; decorre daí este medo filisteu de tudo o que a arte pode apresentar de desagradável, de triste ou trágico, de nostálgico e ilimitado, de terrível e ameçador – aspectos que já existem em quantidade suficiente na nossa vida. Eis a razão da preferência pela alegria inocente, pelo lúdico, inofensivo, insípido, picante – pela arte, em suma, de filisteus para filisteus, que se possa usufruir como uma sesta ou uma pitada de tabaco.
É assim que o público quer o artista; decorre daí este medo filisteu de tudo o que a arte pode apresentar de desagradável, de triste ou trágico, de nostálgico e ilimitado, de terrível e ameçador – aspectos que já existem em quantidade suficiente na nossa vida. Eis a razão da preferência pela alegria inocente, pelo lúdico, inofensivo, insípido, picante – pela arte, em suma, de filisteus para filisteus, que se possa usufruir como uma sesta ou uma pitada de tabaco.
Rainer Maria Rilke
O diário de Florença
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