anterior às idéias



Por que escrevo isto? Não tenho idéias claras, sequer tenho idéias. Há trapos, impulsos, bloqueios. E tudo procura uma forma, então entra em jogo o ritmo e eu escrevo dentro desse ritmo, escrevo por ele, movido por ele e não pelo que chamam de pensamento e aque faz a prosa, a literatura ou outra coisa. Há primeiro uma situação confusa, que mal se pode definir pela palavra; é dessa penumbra que eu parto e, se aquilo que quero (se aquilo que quer dizer-se) tiver força suficiente o swing começa imediatamente, um oscilar rítmico que me traz para a superfície, que ilumina tudo, que conjuga essa matéria confusa e o que a castiga numa terceira instância, clara e como que fatal: a frase, o parágrafo, a página, o capítulo, o livro.



Julio Cotázar

O jogo da amarelinha
capítulo 82