da consciência



[...] Hoshino se lembrou da própria infância. Dos tempos em que ia diariamente pegar peixes num ribeirão próximo à sua casa. Bons tempos aqueles em que não tivera de pensar em nada. Só tivera de viver a vida como ela era. Vivendo, era alguma coisa. De maneira natural. Mas deixou de ser assim a partir de um certo tempo que não consigo definir com exatidão. Viver, apenas, passara a não significar que eu não era alguma coisa. Que história mais maluca, não é mesmo? Afinal, as pessoas nascem para viver, certo? Em vez disso, parece até que quanto mais eu vivia, mais perdia o conteúdo, isto é, me transformava num homem vazio por dentro. E pode ser que daqui para a frente, quanto mais eu viver mais vazio e insignificante eu me torne. Mas isso está errado. Não tem pé nem cabeça. Será que posso mudar o rumo dos acontecimentos?




Haruki Murakami

Kafka à beira-mar