a quenga II



Depois, a rapariga levou Hoshino para a cama e com as pontas dos dedos e da língua acariciou-lhe carinhosamente o corpo, logo conseguindo nova ereção. Firme e rígida, levemente inclinada para a frente como Torrer de Pisa em desfile carnavalesco.

- Viu? você já está pronto para outra sessão – disse ela. Em seguida, dedicou-se a mais uma série de movimentos. – Tem algum pedido especial a fazer? Um pedido do tipo “gostaria de fazer assim, ou assado”? O Coronel Saunders me disse para lhe dar tratamento especial.
- Bem, assim de repente não me ocorre nenhum pedido especial, mas que acha de citar mais alguma coisa do tipo filosófico? Não entendo nada, mas talvez sirva para retardar a ejaculação. Do jeito que vai, não vou conseguir segurar por muito tempo...
- Vejamos então... É um tanto antigo, mas o que acha de Hegel?
- Serve, serve. O que você quiser.
- Pois recomendo Hegel. Antiquado, mas... Tá-rá!, aqui vai um dos oldies but goodies!
- Ótimo.
- “O eu é o conteúdo da relação e a relação mesma”.
- Ahn...!
- Hegel estabeleceu a chamada “consciência-de-si” e diz que o sujeito humano não só tem conhecimento de si mesmo e do objeto separadamente, como também melhor se compreende pela projeção de si sobre o objeto como mediador. Isto é “consciência-de-si”.
- Não entendi nada.
- Em outras palavras, é o que estou fazendo com você neste momento. Para mim, eu sou o si e você é o objeto. Para você, é naturalmente o contrário: você é o si e eu sou o objeto. Neste momento estamos realizando uma permuta de si e do objeto e assim estabelecendo a “consciência de si”. Ativamente.
- Continuo não compreendendo, mas me sinto consolado.
- É o que interessa.



Hakuri Murakami

Kafka à beira mar