os burgueses e seus jardins



Um rapaz se apaixona por uma moça; passa ao lado dela todas as horas do seu dia; consome todas as suas forças, todos os bens que possui, para provar-lhe, a cada momento, que se entrega a ela sem reservas. Surge, então, um pretensioso, alguém com um bom cargo público e lhe diz: “Meu jovem senhor: amar é próprio da natureza humana, mas é necessário amar como um homem. Divida suas horas: consagre umas ao trabalho, e o tempo livre a sua amada. Faça o balanço de seus bens e, após ter atendido a todas as suas necessidades, não censuro se usar o excedente para presentear sua amada, mas não exagerando; por exemplo, no dia de seu aniversário, de seu santo protetor...”

Se o nosso apaixonado lhe der ouvidos, tornar-se-á um jovem muito útil, e eu próprio não vacilaria em aconselhar a algum príncipe a lhe dar um emprego; mas seu amor está liquidado, assim como sua arte, se for um artista. Oh, meus amigos, porque transborda tão raramente a torrente do gênio? Por que razão tão raramente ela se agita em grandes ondas e faz estremecer almas admiradas?... Caros amigos, é porque nas duas margens habitam tranqüilos burgueses, cujos canteiros de tulipas e plantações e plantações de hortaliças seriam devastados pela torrente caso não soubessem, com diques e canais, evitar inteligentemente o perigo que os ameaça.



J.W. Goethe

Os sofrimentos do Jovem Werther