da adaptação



_ Não é que eu queira parar de escrever - disse Sumire. Ela refletiu por um momento. - É só que, quando tento escrever, não consigo. Sento-me à mesa e não me vem nada: nenhuma idéia, nenhuma palavra, nenhuma cena. Zero. Não muito tempo, eu tinha milhões de coisas sobre o que escrever. O que está acontecendo comigo?

_ Está me preguntando?

Sumire assentiu com um movimento da cabeça.
Bebi um gole do meu chope gelado e organizei os pensamentos.

_ Neste instante, acho que está se posicionando numa nova estrutura ficcional. Está preocupada com isso, portanto não há necessidade de colocar seu sentimentos na escrita. Além disso, anda preocupada demais.

_ Você faz isso? Você se põe dentro de uma estrutura ficcional?

_ Acho que a maior parte das pessoas vive em uma ficção. Eu não sou uma excessão. Pense nisso em termos da engrenagem de um carro. É como um câmbio entre você e a realidade austera da vida. Pega a força de fora, em estado natural, e usa a as marchas para ajustá-la de modo que fique tudo bem sincronizado. É assim que mantém seu corpo frágil intacto. Isso faz algum sentido?


Haruki Murakami

Minhas querida Sputinik