cabeceira



Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
"da sombra daquele beijo
que farei?"
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão desliza
distraidamente?
sobre a minha mão


Ana Cristina Cesar

Inétidos e dispersos


a linguagem do outro



A linguagem literária era a linguagem por excelência, quando na realidade social havia, como ainda continua a haver uma quantidade de outras linguagens separadas da literatura. Por conseguinte, linguagem literária ocupa uma posição excêntrica entre em relação a todas as linguagens reais, e ao mesmo tempo, uma posição transcendente, como se ela fosse a componente, e de certo modo a síntese, de todas essas linguagens. Isso constitui um equívoco que faz com que a literatura seja constantemente ameaçada pelos grandes abalos sociais, precisamente porque há uma sociedade e, melhor dizendo, uma ideologia da linguagem literária. [RB]


Não seria melhor encarar o problema ao nível daquele que escreve? É um indivíduo separado dos outros e que se coloca já à parte ao utilizar para um certo fim uma linguagem que não é a de toda a gente, e que só se tornará linguagem literária no termo de seu trabalho. Ainda que esteja submetido a todas as determinações que tu sugeres, não deixa de se entregar a um trabalho solitário. [MN]


Roland Barthes e Maurice Nadeau

Para/ Ou onde vai a literatura